Dia desses comprei Dublinenses de James Joyce em uma edição “BestBolso” para ler e reler alguns contos nos intervalos dos dias, sobretudo, nos momentos de viagens no metrô, que têm sido insuportáveis pelo número de trocas que devo de fazer para conseguir chegar na estação mais próxima do meu destino.
Antes da companhia de Joyce, tinha a impressão de que minha vida estava se passando mais dentro dos trens do que em qualquer outro lugar que eu preferisse ou desejasse estar. Não consigo suportar a falta de bom senso e a falta de olhos nos corações das pessoas.
Todos os dias, invariavelmente, alguém ultrapassa a primeira pessoa da fila e pára na sua frente sem qualquer constrangimento perante todos os outros. O empurra-empurra deixa as costas dos mais frágeis feito pontos de interrogações. Outro dia, um senhor entrou com um sacolão empurrando e as pessoas gritando de dor e ele dizia, “tem lugar pá todo mundo, tá vazio lá no meio, eu não to desrespeitando ninguém. A culpa é dos homi lá de Brasília. Faz uma semana mesmo que tomei um tiro no calcanhar”. Metade do trem sentiu medo e fingiu que não escutou (mulheres, crianças, os dos “fones”, os conformados e os mais experientes) e a outra metade saiu em defesa da honra própria e de terceiros: "deixa ele sair pra ver", era o que diziam.
Reler os contos de Joyce é praticar sempre um exercício de experimentar a própria realidade, na sua essência - tal qual ela é e, ao mesmo tempo, se deitar no macio da cama de uma pensão com janelas de madeiras amareladas que proporcionam uma visão para árvores centenárias, olhar o enigma do proibido sobre frestas de uma esquina comum e contemplada pela pouca movimentação, imaginar o retorno do homem desiludido e moralista capaz para o riso, para o patético e até mesmo para o cafona, viajar no meu mundo pelo simbolismo das imagens e palavras construídas pelo autor.
Dentre as coisas fantásticas e motivantes da literatura, acho que esta é uma das maiores.
Raíssa M. Londero
Antes da companhia de Joyce, tinha a impressão de que minha vida estava se passando mais dentro dos trens do que em qualquer outro lugar que eu preferisse ou desejasse estar. Não consigo suportar a falta de bom senso e a falta de olhos nos corações das pessoas.
Todos os dias, invariavelmente, alguém ultrapassa a primeira pessoa da fila e pára na sua frente sem qualquer constrangimento perante todos os outros. O empurra-empurra deixa as costas dos mais frágeis feito pontos de interrogações. Outro dia, um senhor entrou com um sacolão empurrando e as pessoas gritando de dor e ele dizia, “tem lugar pá todo mundo, tá vazio lá no meio, eu não to desrespeitando ninguém. A culpa é dos homi lá de Brasília. Faz uma semana mesmo que tomei um tiro no calcanhar”. Metade do trem sentiu medo e fingiu que não escutou (mulheres, crianças, os dos “fones”, os conformados e os mais experientes) e a outra metade saiu em defesa da honra própria e de terceiros: "deixa ele sair pra ver", era o que diziam.
Reler os contos de Joyce é praticar sempre um exercício de experimentar a própria realidade, na sua essência - tal qual ela é e, ao mesmo tempo, se deitar no macio da cama de uma pensão com janelas de madeiras amareladas que proporcionam uma visão para árvores centenárias, olhar o enigma do proibido sobre frestas de uma esquina comum e contemplada pela pouca movimentação, imaginar o retorno do homem desiludido e moralista capaz para o riso, para o patético e até mesmo para o cafona, viajar no meu mundo pelo simbolismo das imagens e palavras construídas pelo autor.
Dentre as coisas fantásticas e motivantes da literatura, acho que esta é uma das maiores.
Raíssa M. Londero
É uma viagem, adorei!!! Saudades Raíssa!!!
ResponderExcluir...ao mesmo tempo, se deitar no macio da cama de uma pensão com janelas de madeiras amareladas que proporcionam uma visão para árvores centenárias, olhar o enigma do proibido sobre frestas de uma esquina comum e contemplada pela pouca movimentação...
ResponderExcluirObrigado pelo texto.Grande abraço, Saudades!!!
Fernando Ramos