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Dublinenses no Reponte de Maria

Dia desses comprei Dublinenses de James Joyce em uma edição “BestBolso” para ler e reler alguns contos nos intervalos dos dias, sobretudo, nos momentos de viagens no metrô, que têm sido insuportáveis pelo número de trocas que devo de fazer para conseguir chegar na estação mais próxima do meu destino.  Antes da companhia de Joyce, tinha a impressão de que minha vida estava se passando mais dentro dos trens do que em qualquer outro lugar que eu preferisse ou desejasse estar. Não consigo suportar a falta de bom senso e a falta de olhos nos corações das pessoas. Todos os dias, invariavelmente, alguém ultrapassa a primeira pessoa da fila e pára na sua frente sem qualquer constrangimento perante todos os outros. O empurra-empurra deixa as costas dos mais frágeis feito pontos de interrogações. Outro dia, um senhor entrou com um sacolão empurrando e as pessoas gritando de dor e ele dizia, “tem lugar pá todo mundo, tá vazio lá no meio, eu não to desrespeitando ninguém. A culpa é dos hom
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Dê gosto ao seu desejo!

Não sabia mais nada sobre a vida, ficou horas adentro tentando compreender o significado do desejo para Deleuse e Lacan, folhava o livro com um encantamento inédito. Deu gosto na existência e asas na imaginação das entrelinhas (sem estrelinhas). Queria continuar se entrelaçando naquela linguagem tão interessante e febril. Estava sentindo tanta afinidade e inquietação, mas a sua outra realidade a chamava... Do desejo para a ética e da ética para a "morte". E era só ter coragem para seguir viagem... " Pensar na morte deveria ser exercício diário. Exatamente por que se morre é que se pode conferir intensidade a cada dia que se vive. Cada dia vivido é um dia a menos na trajetória terrena(...) Viver com ética e pensar sobre o que se acumula nesta breve trajetória terrena é dever ético que, bem exercido, faria com que as pessoas se relacionassem melhor. Deixassem as insignificâncias e o supérfluo para pensar no fundamental". (José Renato Nalini). Reso

Reticências

Cheguei em casa ontem com uma sensação de pertencimento tão forte como a que somos capazes de sentir quando fazemos uma criança sorrir em um cenário de dor ou de tristeza. O dia estava nublado e eu estava esgotada, exausta, mas quando eu vi brilhar a presença dele o meu coração acelerou em disritmia. De fato, aquela luz foi o que inaugurou o encanto, imagino que a sensação seja a mesma de estar em Paris, sentindo toda a elegância e a sedução daquelas Ruas poéticas e daquele ar familiar e deslumbrante. Sem previsibilidades ou pretensões e, simplesmente surpreender-se com a cintilância daquele pertencimento mágico e inominável. Também já imaginei tomar um café com ele no mesmo lugar onde Beauvoir e Satre haviam se encontrado outrora. Tive vontade! Meus dias em São Paulo me levaram a percorrer caminhos novos e desconhecidos. No início fiquei um pouco atrapalhada com a velocidade de tudo e com poucos lugares tranqüilos para ficar, mas hoje procuro palavras para expressar a m

Um retrato de uma sexta-feira à noite na Avenida Paulista, por outra perspectiva...

“Reza um pai nosso umas quantas vezes que passa”. Ouvi esta manifestação ontem à noite (25) na Avenida Paulista em São Paulo, de um morador de Rua abraçando uma criança - que eminentemente sentia muita dor. O fato de ontem ter sido um dia diferente para mim por ser o dia do aniversário e, sobretudo, por ter sido desafiante e importante desde as primeiras horas da manhã - olhar nas retinas nebulosas daquela criança e daquele suposto pai foi algo que me fez “congelar”. Não consegui seguir em frente sem saber o que estava se passando. Também não senti "pena" porque a dupla não era digna disto e, tampouco senti vergonha de parar para conversar. O menino se chamava Pedro e o pai Valdir. A dor da criança era de fome e a do pai de tristeza. O filho mais velho de Valdir está preso e condenado ha 44 anos, por vários delitos de furto. Antes de ser recolhido era artista plástico. O pai disse que “ele nunca matou ninguém”. Valdir teve seus tempos de glória como músico. Mas um di

Sobre o preconceito nosso de todos os dias...

Dizem que a legislação em vigor de um país é sempre o reflexo do pensamento de seu povo num determinado período da sua história. Muito embora, certas normas sejam as mesmas durante séculos e, em contrapartida, existem outras que se tornam desatualizadas no decorrer dos anos, n o Brasil, por exemplo, com relação ao preconceito - é fácil perceber o abismo que há entre a lei e a realidade. Na Constituição Federal de 1988 está expresso que “constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e qualquer outras formas de discriminação (artigo 3º, inciso IV). Preconceito? Não possuímos. O que temos é opinião formada, bem definida. Preconceito é o outro que tem... Falamos sobre os políticos de uma forma geral após conhecer a carreira de um ou dois. Conhecemos tudo sobre os policiais, porque presenciamos um desvio de conduta de um agente em determinado local (ou mesmo, porque ficamos s

l o v e

Um dia conheci um homem interessante. Inteligente, enigmático, cheio de interrogações. Conversamos pela primeira vez com os olhos. As outras vezes tive a sensação de que estávamos fugindo assustados de qualquer afeto desmedido, de qualquer caminho que levasse ao outro. Não me esqueço dos olhos dele mirando áreas invisíveis da minha alma. Esta música é para ele:

A integração na União Européia sob o prisma da alteridade: repercussão dos direitos dos ciganos

Violação dos direitos humanos e abuso de direitos civis . Esta é a frase que resume as situações constrangedoras e de preconceito com que o povo cigano, não raramente, tem sofrido em países europeus que integram do bloco econômico da União Européia. Em julho deste ano, o governo francês promoveu a deportação e a destruição de acampamentos de cerca de oito mil ciganos que migraram da Romênia e da Bulgária em busca de emprego, violentando, assim, um dos princípios basilares da União Européia, que é a livre movimentação de pessoas e a livre circulação de mercadorias. A Comissão Européia repudiou tal deportação promovida pela França e, em resposta a esta atitude, deu sinais de que poderia entrar com uma ação legal contra Paris, o que causaria àquele país severas sanções por conta de sua conduta. Da mesma forma, o Comitê para a eliminação da discriminação racial da ONU além de repudiar publicamente a postura intransigente adotada pela França f