Pular para o conteúdo principal

Sobre o preconceito nosso de todos os dias...

Dizem que a legislação em vigor de um país é sempre o reflexo do pensamento de seu povo num determinado período da sua história. Muito embora, certas normas sejam as mesmas durante séculos e, em contrapartida, existem outras que se tornam desatualizadas no decorrer dos anos, no Brasil, por exemplo, com relação ao preconceito - é fácil perceber o abismo que há entre a lei e a realidade.

Na Constituição Federal de 1988 está expresso que “constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e qualquer outras formas de discriminação (artigo 3º, inciso IV).

Preconceito? Não possuímos. O que temos é opinião formada, bem definida. Preconceito é o outro que tem...


Falamos sobre os políticos de uma forma geral após conhecer a carreira de um ou dois. Conhecemos tudo sobre os policiais, porque presenciamos um desvio de conduta de um agente em determinado local (ou mesmo, porque ficamos sabendo através de algum meio de comunicação). Discorremos sobre advogados (ladrões), muçulmanos (pessoas atrasadas), árabes (desonestos), italianos (ruidosos), enfim, sobre tudo.

Perceba você leitor, como temos o hábito leviano de generalizar sobre tudo e sobre todos. Estabelecemos uma expectativa de comportamento coletivo (racial, nacional, regional, cronológico) mesmo sem conhecermos, pessoalmente, muitos ou mesmo, nenhum integrante do grupo sobre o qual carimbamos. Não paramos para analisar um pouco mais a fundo. Não nos interessa, por exemplo, estudar as funções e a importância do Instituto da Polícia dentro de um país e, pouco atentamos para a realidade social dos árabes e como eles aparecem estereotipados num contexto social e global antes de falarmos deles. Nada disto. Reproduzimos muitos rótulos de forma acrítica e imatura que, desde sempre, e em qualquer lugar são preconceitos nos passados por piadinhas, pela tradição familiar, pela religião, pela necessidade de elevar a nossa inferioridade individual por uma ambiciosa superioridade coletiva que queremos assumir ao apontar uma marca de inferioridade no outro.
Eu não sei se acordei muito cedo hoje ou se o chimarrão está amargo demais. Ou os dois quem sabe (quem sabe?). Mas acredito que ter a Observação e a Ação frente ao preconceito diário - muitas vezes inconsciente – pode ser um diferencial ao respeito às diferenças.

Raíssa M. Londero

Comentários

  1. A Generalização é absurdamente daninha a sociedade, enfraquece entidades, instituições e pessoas. A pergunta é: Isso é bom pra quem???
    Tem muita gente querendo discutir o que não sabe(reproduzindo apenas o que ouviu sem reflexão)e não são capazes de olhar para o umbigo.
    Infelizmente ouço isso várias vezes ao dia!!
    Lamentável, mas a culpa é sim do chimarrão gaúcho...ele ajuda nas reflexões ai a conclusão é essa mesmo.

    ResponderExcluir
  2. Sensacional Ráh! Muito bom mesmo! Adoro as coisas e a maneira como você escreve! Entro em muitos blogs, mas o seu é um dos poucos que me cativa e me faz esperar mais e mais post's...

    Beijo

    Gregor

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

HAITI: O pais caribenho soterrado pela miséria, violência e agora pela desgraça estrutural

Meu país é doença em seu coração, todas as pessoas que têm no meu país vivem na rua – Jean Marc Fantaisie - 20 anos (Jovem haitiano, que reside na cidade de Jérémie, também conhecida como “A Cidade dos Poetas”. Jérémie é uma cidade rural do Haiti). O Haiti é um país caribenho que se localiza no leste da América Central. Em 1492, os espanhóis ocuparam somente o lado oriental da ilha - atualmente República Dominicana – onde todos os índios da região foram mortos ou escravizados. Já o lado ocidental da ilha, onde hoje se localiza o Haiti, foi cedido aos franceses em 1697. Estes, por sua vez, passaram a cultivar cana de açúcar e a utilizar mão-de-obra escrava oriunda do continente africano. Em 1804 negros e mulatos haitianos travaram uma luta feroz contra os colonizadores franceses, que ficou conhecida como uma guerra de libertação nacional. Este movimento anti-racista e anti-colonial foi liderado pelo ex-escravo Toussaint L”Ouverture e, logo mais tarde, sob o comando de Jacques ...

Um retrato de uma sexta-feira à noite na Avenida Paulista, por outra perspectiva...

“Reza um pai nosso umas quantas vezes que passa”. Ouvi esta manifestação ontem à noite (25) na Avenida Paulista em São Paulo, de um morador de Rua abraçando uma criança - que eminentemente sentia muita dor. O fato de ontem ter sido um dia diferente para mim por ser o dia do aniversário e, sobretudo, por ter sido desafiante e importante desde as primeiras horas da manhã - olhar nas retinas nebulosas daquela criança e daquele suposto pai foi algo que me fez “congelar”. Não consegui seguir em frente sem saber o que estava se passando. Também não senti "pena" porque a dupla não era digna disto e, tampouco senti vergonha de parar para conversar. O menino se chamava Pedro e o pai Valdir. A dor da criança era de fome e a do pai de tristeza. O filho mais velho de Valdir está preso e condenado ha 44 anos, por vários delitos de furto. Antes de ser recolhido era artista plástico. O pai disse que “ele nunca matou ninguém”. Valdir teve seus tempos de glória como músico. Mas um di...

A emoção da razão que busco...

Cercada por outras linhas, puxei o freio de mão e estacionei o “Entre Faces e Esperanças” na tangente do cotidiano sistemático, de tal forma que, o necessário movimento petulante dos neurônios foi sendo vencido pela indisciplina... Com uma pitada de tempero picante no pensamento indolente colocarei novamente a face na esperança entre o permissível prisma do pensar. Até logo mais!