Pular para o conteúdo principal

Poética  

Manoel Bandeira

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar
com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar
às mulheres, etc.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

HAITI: O pais caribenho soterrado pela miséria, violência e agora pela desgraça estrutural

Meu país é doença em seu coração, todas as pessoas que têm no meu país vivem na rua – Jean Marc Fantaisie - 20 anos (Jovem haitiano, que reside na cidade de Jérémie, também conhecida como “A Cidade dos Poetas”. Jérémie é uma cidade rural do Haiti). O Haiti é um país caribenho que se localiza no leste da América Central. Em 1492, os espanhóis ocuparam somente o lado oriental da ilha - atualmente República Dominicana – onde todos os índios da região foram mortos ou escravizados. Já o lado ocidental da ilha, onde hoje se localiza o Haiti, foi cedido aos franceses em 1697. Estes, por sua vez, passaram a cultivar cana de açúcar e a utilizar mão-de-obra escrava oriunda do continente africano. Em 1804 negros e mulatos haitianos travaram uma luta feroz contra os colonizadores franceses, que ficou conhecida como uma guerra de libertação nacional. Este movimento anti-racista e anti-colonial foi liderado pelo ex-escravo Toussaint L”Ouverture e, logo mais tarde, sob o comando de Jacques

l o v e

Um dia conheci um homem interessante. Inteligente, enigmático, cheio de interrogações. Conversamos pela primeira vez com os olhos. As outras vezes tive a sensação de que estávamos fugindo assustados de qualquer afeto desmedido, de qualquer caminho que levasse ao outro. Não me esqueço dos olhos dele mirando áreas invisíveis da minha alma. Esta música é para ele:

Com um pé no Shopping Center e o outro no Direito

O sábio olhando para a lâmina da grama O jovem olhando as sombras que passam O pobre olhando através do vidro pintado por dignidade(...) - trecho da música Dignity do cantor e compositor norte-americano Bob Dylan - Confesso que nos últimos meses o verbo “estar” teve, particularmente, um distanciamento considerável do verbo “compreender” e de todos os outros do gênero...quero dizer, simplesmente, que estar num shopping Center distante do entender, sequer me fazia questionar o porque estava deixando de contemplar um lazer fora destes estabelecimentos comerciais. Emoções à parte e fatos surpreendentes também...a verdade é que conseguia num único lugar ir ao cinema, ao supermercado, na farmácia, em lojas, livrarias, jantar e ainda interagir com uma rede seletiva de pessoas, ou o termo mais adequado fosse: com uma sociabilidade restrita e uniforme? Longe de um pensamento terrorista sobre quem não abre mão de ir aos shoppings nos finais de semana e, por vezes, até considera isto