Pular para o conteúdo principal

A integração na União Européia sob o prisma da alteridade: repercussão dos direitos dos ciganos



Violação dos direitos humanos e abuso de direitos civis. Esta é a frase que resume as situações constrangedoras e de preconceito com que o povo cigano, não raramente, tem sofrido em países europeus que integram do bloco econômico da União Européia.

Em julho deste ano, o governo francês promoveu a deportação e a destruição de acampamentos de cerca de oito mil ciganos que migraram da Romênia e da Bulgária em busca de emprego, violentando, assim, um dos princípios basilares da União Européia, que é a livre movimentação de pessoas e a livre circulação de mercadorias.

A Comissão Européia repudiou tal deportação promovida pela França e, em resposta a esta atitude, deu sinais de que poderia entrar com uma ação legal contra Paris, o que causaria àquele país severas sanções por conta de sua conduta. Da mesma forma, o Comitê para a eliminação da discriminação racial da ONU além de repudiar publicamente a postura intransigente adotada pela França fez um apelo para que fosse evitada a expulsão dos ciganos, uma vez que não houve consentimento livre e esclarecido.

Não bastasse isto, outro fato lamentável e que vai à contramão da integração dos povos é a criação de um muro de dois metros de altura e aproximadamente 100 metros de comprimento na cidade de Beja, em Portugal, que separa aproximadamente 50 famílias ciganas com cidadania portuguesa do restante da população. 

Oficialmente as autoridades portuguesas justificaram a criação do muro sob o argumento de que tal providência ofereceria maior proteção às crianças que moram na região, uma vez que próximo ao local existe uma estrada sem passagem para pedestres.

No entanto, tal justificativa rasa não merece prosperar, tendo em vista que se a finalidade fosse a proteção das crianças ciganas, a lógica seria a criação de uma faixa para pedestres e não um símbolo medieval de segregação de povos e culturas. 

O povo cigano, além de ser economicamente marginalizados naquele continente, historicamente carrega consigo estigmas, fundado em simples preconceito. Não raro os ciganos são identificados como “preguiçosos”, “ladrões”, “sujos”, entre tantas outras marcas negativas que desqualificam e desvalorizam a identidade cultural daquele povo dentro da União Européia.

Assim, cabe ressaltar, que a liberdade e a justiça são valores consolidados pelos Estados-Membros da União Européia e, por isto, a integração além de ser econômica deve ser também, uma integração fundamentada na alteridade e na aceitação da diferença de novos valores, para que haja, de fato, a construção de uma identidade plural e de uma construção comunitária e humanitária.  
Raíssa M. Londero

Comentários

  1. Espero realmente que o "Povo Cigano " também seja considerado e tratado como integrante da comunidade européia... a cultura deles a séculos faz parte da vida do antigo continente...é um hipocrisia o que a França, Portugal e outros estão fazendo com eles.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

l o v e

Um dia conheci um homem interessante. Inteligente, enigmático, cheio de interrogações. Conversamos pela primeira vez com os olhos. As outras vezes tive a sensação de que estávamos fugindo assustados de qualquer afeto desmedido, de qualquer caminho que levasse ao outro. Não me esqueço dos olhos dele mirando áreas invisíveis da minha alma. Esta música é para ele:

HAITI: O pais caribenho soterrado pela miséria, violência e agora pela desgraça estrutural

Meu país é doença em seu coração, todas as pessoas que têm no meu país vivem na rua – Jean Marc Fantaisie - 20 anos (Jovem haitiano, que reside na cidade de Jérémie, também conhecida como “A Cidade dos Poetas”. Jérémie é uma cidade rural do Haiti). O Haiti é um país caribenho que se localiza no leste da América Central. Em 1492, os espanhóis ocuparam somente o lado oriental da ilha - atualmente República Dominicana – onde todos os índios da região foram mortos ou escravizados. Já o lado ocidental da ilha, onde hoje se localiza o Haiti, foi cedido aos franceses em 1697. Estes, por sua vez, passaram a cultivar cana de açúcar e a utilizar mão-de-obra escrava oriunda do continente africano. Em 1804 negros e mulatos haitianos travaram uma luta feroz contra os colonizadores franceses, que ficou conhecida como uma guerra de libertação nacional. Este movimento anti-racista e anti-colonial foi liderado pelo ex-escravo Toussaint L”Ouverture e, logo mais tarde, sob o comando de Jacques

Com um pé no Shopping Center e o outro no Direito

O sábio olhando para a lâmina da grama O jovem olhando as sombras que passam O pobre olhando através do vidro pintado por dignidade(...) - trecho da música Dignity do cantor e compositor norte-americano Bob Dylan - Confesso que nos últimos meses o verbo “estar” teve, particularmente, um distanciamento considerável do verbo “compreender” e de todos os outros do gênero...quero dizer, simplesmente, que estar num shopping Center distante do entender, sequer me fazia questionar o porque estava deixando de contemplar um lazer fora destes estabelecimentos comerciais. Emoções à parte e fatos surpreendentes também...a verdade é que conseguia num único lugar ir ao cinema, ao supermercado, na farmácia, em lojas, livrarias, jantar e ainda interagir com uma rede seletiva de pessoas, ou o termo mais adequado fosse: com uma sociabilidade restrita e uniforme? Longe de um pensamento terrorista sobre quem não abre mão de ir aos shoppings nos finais de semana e, por vezes, até considera isto